Eu nunca fui grande fã de aulas onde um professor se limita a ler.
Até porque ler, leio eu, num ambiente onde me sinta melhor.
Se me dei ao trabalho de me deslocar a uma sala de aula, espero ver algo diferente.
São uma falta de consideração com o público.
No caso de Matemática, exposições bourbaquistas, teorema-demonstração, podem ser um pesadelo.
Eu gosto de livros com teorema-demonstração, leio-os, normalmente com um papel e alguma ferramenta computacional ao lado para testar ideias.
Ensinar, muitas daquelas aulas não ensinam nada. Ou melhor, ensinar, até ensinam. Como não dar uma aula.
Conheci poucas pessoas capazes de dar uma aula "Teorema-demonstração" como deve ser, logo, sei que elas existem. Essas aulas foram fantásticas.
Afinal, é possível uma aula "Teorema-Demonstração" ser interessante.
Vi muitos 'leitores' –principalmente no ensino alegadamente superior– a defenderem-se que não lhes compete motivar os alunos.
Eu não quero debater isso neste blog, sai do âmbito do que pretendo, só vou dizer:
"Ao menos, façam-me o favor de não desmotivar ninguém."
O conceito de homeomorfismo foi um dos que me apareceu várias vezes em vários livros, cadeiras, palestras, etc... e para um conceito simples, há gente que o complica muito.
Algumas das definições rigorosas e correctas têm um problema: não são didácticas.
Lê-las e passar à frente... não ensina.
Quem "as lê" numa aula não está interessado em ser percebido, ou não tem qualquer respeito pelo público alvo.
Lê-las "a seco" de um powerpoint até fazem uma pessoa bocejar...
O caso do homeomorfimo, (não confundir com homomorfismo) é gritante porque é um conceito simples.
Um homeomorfismo entre espaços métricos, topológicos, ou seja lá o que for, é uma função
- bijectiva
- contínua
- de inversa contínua.
Sabendo isto, qualquer pessoa minimamente dentro da área consegue perceber e escrever uma versão rigorosa, e até perceptível da definição.
Vi esta definição pela primeira vez, numa cadeira de Topologia, e na altura, a professora Maribel Gordon, fez questão de sublinhar isto!
Uma pessoa que desconheça o conceito ainda se atreve a perguntar:
"Mas uma função bijectiva contínua pode não ter uma inversa contínua?"
Atrevam-se a perguntar! Devem perguntar. É uma pergunta legítima.
Sim, pode, caso contrário, este conceito seria desnecessário.
Eu até poderia dar um exemplo. Será que o ChatGPT me dá um correcto? Bem, quem quiser que lhe pergunte.
Todos os textos decentes que introduzem a definição dão exemplos.
Eu não quero ser indecente, mas estou a redigir este texto num smartphone. Vou deixar esse trabalho para o leitor curioso e interessado que desconheça. Encontram-se alguns correctos, mesmo em português de Portugal e em português do Brasil pela Internet.
Uma aula que não seja diferente da leitura de um livro é uma mera perda de tempo.
Respeitem o tempo das pessoas. O tempo é uma das muitas variáveis limitadas na vida das pessoas. Ainda não somos imortais.